9 de jan. de 2013

- Torça por mim!

Foi o que me disse certa vez uma amiga que estava prestes a fazer a prova do vestibular, anos atrás. Ao que respondi:

- Olha, não questiono nada dessas coisas pois sei que seus sonhos passam por isso, e sei (até perdi uma amiga recentemente por isso) que ninguém gosta de ser questionado em suas quimeras. No meu caso específico, eu sempre odiei o vestibular, os textos mais azedos que já escrevi vieram após aprovações, bem como também sempre odiei todo esse climinha que permeia a cidade, as conversas, as pautas jornalísticas, e, sobretudo, as aulas que deveriam ter propósito muito maior do que apenas se reduzir a ensinamentos para uma avaliação específica; fiz vários vestibulares, passei em uns, reprovei em outros, mas nunca criei quaisquer expectativas sobre eles, até porque o ambiente acadêmico nunca foi de meu agrado; entrar na Universidade só me fez ver que aquilo é o fim do mundo e sentir mais vontade de sair e ficar o mais distante possível dela. Talvez o fato de eu fazer curso de Humanas contribua para isso. Mas a vida é uma sequência de ironias né, e hoje me vejo nas noites de sexta dando aula num cursinho pré-vestibular, o fato é que apenas aceitei por ser destinado a estudantes de escolas públicas, e por essa parcela - da qual fiz parte no passado e compreendo as limitações - eu até engulo meu preconceito com pré-vestibulares e me disponho a trabalhar em um, mesmo a ganhar quase nada; jamais trabalharia num cursinho convencional, mesmo que pagando muito bem, mas com um tipo de cobrança por um trabalho que ficaria aquém do aprendizado, e sim restrito à estatística de aprovação, diminuindo o prazer das aulas (não-)dadas e (não-)debatidas..... Felizmente, dou aula em outra escola, e nela não tenho queixa qualquer.... Mesmo assim, quanto a isso de profissão, o fato que noto é que só depois que comecei a trabalhar é que percebi que isso que me alertavam na infância - trabalhe com o que gosta - não passa de falácia... hoje faço tudo o que gosto (ganho dinheiro dando aulas e escrevendo), coisas que eu faria - e faço - de graça com o maior prazer, e com muito mais sentimento de liberdade..... Sei que, como professor, se for para uma escola melhor, haverá mais cobrança; sei que como escritor de revista, tenho que variar meu estilo de literatura para agradar quem quer que seja... Então às vezes sinto um desejo bukowskiano latente de apenas ter, ao invés do que tenho hoje, um empreguinho, assim, tipo num almoxarifado, e passar a tarde encaixotando carga num galpão escuro esperando a noite chegar, e então, poder escrever, sem compromisso para com ninguém mais, sem compromisso com profissão qualquer.... que bom seria. É por isso que estou pensando em deixar a revista - e isso é duro de fazer pois ela é um sonho realizado, mas não quero que ela de um sonho hoje torne-se um fardo amanhã, compreende? É esse tipo de coisa que te digo, parece que aproveito o seu pedido para falar de mim, mas o que ocorre é que estou falando da minha percepção sobre tudo isso que tu fala e após o que eu não conseguiria ser lugar-comum ao extremo a ponto de desejar "boa-sorte e beijos" tão-somente... venho é para lembrar que não é o vestibular que a fará vencer, o vestibular é uma prova como todas as outras que você fez na vida, a cada fim de mês, fim de bimestre; o que a fará vencer é a sua percepção das coisas, do seu futuro trabalho, da sua contribuição para o que quer que seja; eu, hoje, queria apenas já não - precisar - contribuir, pois não vejo sentido nisso nem nunca vi, e vitória, pra mim, quando não se trata do meu time de futebol, continua sendo uma palavra esperando tradução. Mas é da vida e vamos solapando caminhos do jeito que dá... São estas palavras amargas que lhe deixo, mas nem toda amargura que eu carregue pode me tornar insensível, de modo que você pode acreditar quando digo que estou, sim, torcendo bastante por você. Um beijo e avante.

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