4 de nov. de 2023


Muito do que eu sou está nessa foto

Há muito pouco de mim fora daqui.








22 de set. de 2023

Notas do último dia de estágio no Hospital dos Pescadores

 Há muito tempo pensava em fazer algo de diferente, algo "radical". Escalar um pico, alguém sugeriu, mas eu já o fiz; pegar a moto e sair rodando o Brasil, recomendou outra pessoa, só que eu também já havia feito isso. E embora essas e outras coisas sejam aventuras que pretendo voltar a viver, estava afim de algo diferente nesses últimos tempos.


Foi pensando nisso que, há um ano, me inscrevi num curso técnico de enfermagem. Taí uma louca aventura. Apliquei injeções, massageei um bocado de gente, me emburaquei nos corredores de um hospital caótico prestando todo tipo de auxílio a quem quer que fosse. Foi divertido.

 

 

 

5 de set. de 2023

 MICHEL ONFRAY escreve, no prefácio autobiográfico de um de seus mais preciosos livros, que seu pai, solteiro por muito tempo, somente o teve aos 38 anos. Eu pensei que me identificaria, pelo caráter estimulante das ideias de Onfray, com ele próprio; mas o destino me obriga a me identificar com seu pai, vez que eu, também solteiro por muito tempo, assim como ele somente serei pai aos 38 anos - 5 de maio de 2024, se tudo der certo...



20 de fev. de 2023

Uma única coisa

deve importar ao homem:

permanecer de pé

entre as ruínas.



Julius Evola





21 de jul. de 2022

Marco Aurélio, como outros estoicos, gostam de enfatizar a coragem como um importante atributo do indivíduo. Pessoalmente, entendo a funcionalidade de reforçar essa conduta naqueles tempos; na contemporaneidade, não tenho certeza do quão útil ela é. Digo isso porque a coragem, em tempos de sociedade acelerada e hiperconsumista, com certa frequência se confunde com inconsequência, ausência de ponderação. Como Bardamu, de Céline, prefiro pensar a coragem como secundária, e uma certa covardia como virtude. Talvez não haja nada mais estoico do que isso. É claro, lembrando que, para Bardamu, a covardia não significa ausência de ação...



5 de ago. de 2020

15 de abr. de 2020

Eu me lembrei de uma noite na estrada... viajando de moto... um frio de correr os ossos, e eu desabrigado, pois perdera a jaqueta numa queda no estado anterior... eu estava em Minas, e como em todas as estradas daquele lugar, eu pilotava tendo ao meu lado um desfiladeiro... eu queria chegar na próxima cidade, mas a próxima cidade nunca chegava... o breu era tamanho que a luz das estrelas faziam parecer dia, vez que eram a única fonte de iluminação, além do farol de minha moto... mas o frio me matava, e eu começava a delirar... os reflexos começavam a me escapar, e por duas ou três vezes eu tive que frear bruscamente em curvas para não passar direto e rolar montanha abaixo...

Isso não foi tudo sobre essa noite...


14 de abr. de 2020

Hoje, Rubem Fonseca morreu (caralho, Rubem Fonseca morreu). Eu bem quis escrever algo, postar foto, qualquer coisa, com bobagens do tipo "e uma parte de mim se foi" (caralho, Rubem Fonseca morreu...), mas de repente me lembrei de um rompante iconoclasta de um amigo, que certa vez disse que as pessoas estão sempre pensando que as coisas acontecem por causa delas... como se tudo que acontecesse dissesse sempre respeito a elas, seja a morte de alguém, a conquista do título de um campeonato por determinado clube ou um pandemia global (caralho, Rubem Fonseca morreu)... Ele está certo. Não quis ser piegas diante do escritor que me ensinou que pieguice não leva a lugar algum. Mas, bem... fará falta...

Caralho...



20 de out. de 2019



Ontem, quando ia ao cinema, às 22h, senti vontade de morrer. Consegue entender isso sem levar pro drama? Eu não pensava, oh, o mundo me odeia, quero morrer. Apenas senti vontade. E então acelerei o carro. Acelerei pra caralho, o mais rápido que pude. Acho que foi apenas um lapso, uma vontade ocasional, e não um desejo. Senão, eu poderia ter morrido fácil fácil, era só tirar o cinto, jogar o carro pro lado, pra cima do canteiro e com algumas capotadas dificilmente sobreviveria. É por isso que não quero ser dramático. Foi apenas uma vontade, manifesta numa força que nunca pus ao acelerar. E aí, quando a pista apresentou um pequeno desnível, e então eu perdi parte do controle do carro, derrapei na avenida, e após um ziguezague no asfalto, tive um leve encontrão no acostamento. A vontade de morrer se converteu numa forte sensação de que aconteceria. Mas não era a sensação que eu queria. Naquela hora da noite aquela rodovia larga era muito pouco movimentada. Fiquei ali, pensando. Então aprumei o carro, estacionei, saí e sentei no meio-fio, ainda absorto em pensamentos. Depois, voltei pra casa.




28 de set. de 2019


Curta muito este dia
do princípio ao fim.
Sorria muito,
e receba com o coração aberto
todo carinho oferecido.
Muitas felicidades
para hoje e
para sempre!




Mensagem de parabéns publicada hoje no Feicetruque de um amigo que se suicidou há cinco anos



9 de mai. de 2019

7 de abr. de 2019


Esses dias recebi um fora, mas um fora light. A garota disse que queria ser minha amiga, sair comigo, ir pro cinema, pro teatro, qualquer coisa assim, mas que não rolaria nada entre a gente.

Pensei: alguém pra ir pro cinema, pro teatro, mas sem que precise rolar nada? Perfeito. Era tudo o que eu tava querendo.




6 de abr. de 2019

agora sim



Eu odiava o fato de ser baixo, ter apenas, sei lá, 1,62m de altura, carregava esse complexo desde sempre, me sentia inferiorizado diante das garotas, da rapaziada, de todo mundo, e como se não bastasse o fato de ser baixo, outros fatores se somavam a isso e até hoje sou meio corcunda, de tanto abaixar a cabeça consentindo qualquer coisa que me requerem, e isso tudo me dava uma triste impressão de que eu poderia viver coisas que infelizmente me são subtraídas por essa condição babaca e pelas convenções sociais existentes em torno dela, e até alguns poucos alentos que eu tinha, quando por exemplo via pela TV o "baixinho Romário", meu ídolo futebolista de garoto, bem, mesmo esses alentos não duravam muito, pois o dito baixinho só o é pros padrões europeus... ele tem uns 10cm a mais do que eu

Porém, um dia, nessas andanças, eu vi por aí um outro cara que eu admiro muito, que aprecio, que canto junto, não só desde moleque, mas desde sempre e para sempre... o Geraldo Azevedo, grande Geraldo Azevedo... nos vimos por pouco tempo, prosa rápida, aperto de mão caloroso, mas o mais importante pra mim foi ver que Geraldo Azevedo era baixinho que nem eu, da minha altura, aliás, acho até que mais baixo...


Eu devia ter uns 28, 29 ou 30 anos, mas foi ali que pensei Agora sim, tô pronto pra vida...







1 de abr. de 2019

17 de mar. de 2019

Dizia Nietzsche que




O PRIMEIRO SINAL DA INCOMPREENSÃO 
É O RISO


O SEGUNDO,
A INDIFERENÇA...





13 de mar. de 2019

a última vez que me emocionei




Leon, eu nem sei como agradecer, viu? Você é um ser humano incrível, não só porque me socorre na hora das faltas de energia, mas porque nunca conheci alguém com tamanha boa vontade e atitude em ajudar ao próximo! Você não se diz cristão, mas a maioria de nós está longe de ter a mesma empatia e caridade, que são, inclusive, características que Cristo nos deixou como mandamento, que você demonstra pelos outros!





3 de mar. de 2019

Alguém disse que esperava que Deus lhe desse um motivo para viver, ou então desistiria de tudo.

Receio que não terá esse motivo, eu falei.

E continuei: tu pode então desistir e meter um balaço na cabeça, ou desistir e apenas seguir, agora sem perspectivas boas, sem pressão e sem cabrestos, sem esperanças pueris, sem correntes que prendem-no pelo pescoço; aproveitar um pouco dessa aventura efêmera que não nos leva a nada, apenas nos causa desconforto.

Se, no meio disso tudo, voltar a encontrar motivos para sorrir, então sorria; mas nunca se esqueça de que a vida não mudou: ela é aquela mesma coisa insossa de sempre...

Nunca perca isso de vista, sob risco de sofrer desilusões sérias a cada seis meses...






28 de fev. de 2019

Gotas de filosofia

O mundo é naturalmente caótico ou ordenado?, eu me peguei com essa questão na cabeça.

Mas ser caótico ou ser ordenado depende dos critérios que estabeleçamos. Ele pode ser as duas coisas ou uma terceira para a qual ainda não tenhamos atentado. Só que, eu sei, essa é uma resposta evasiva. Tentando, portanto, ser mais conclusivo, diria que o mundo, o universo e tudo mais são a ordem do caos. É sempre caos porque é sempre movimento. O que é a ordem? Um instante talvez impossível de destacar entre um movimento caótico e outro.








26 de fev. de 2019




"Tchau", ela me diz, apenas, ignorando que se dependesse de mim ficaríamos por mais tempo, passearíamos por mais tempo, conversaríamos por mais tempo, faríamos companhia um ao outro por mais tempo - ou talvez não ignore, talvez saiba que se dependesse de mim seria mesmo desse jeito, mas por isso ela não aceita (porque não quer que dependa de mim), então ela se vai e eu fico entre o lamento por terem acabado aqueles momentos em que estivemos juntos e o deleite por tê-los vivido, consolando-me em silêncio, enquanto a vejo se afastar pelo para-brisa embaçado ou pelo retrovisor sujo, quase segurando a respiração, contando cada um dos seus passos apressados e sem olhar para trás, até o momento em que ela se mistura às sombras e eu já não sei bem se ainda a tenho em vista ou se ela já escapuliu do cenário, e eu então coloco o cinto, que sempre tiro (pra quê?), ligo o carro, que sempre desligo (por quê?) e aumento o volume do som para afastar meus pensamentos e me distrair, porque voltar para casa sozinho é sempre algo tormentoso na minha cabeça, pois em todas as vezes eu fico rememorando cada segundo e imaginando como poderia ter sido diferente (mas que bom que não foi, quem sabe), desde o começo, quando nos encontramos, ou desde antes, quando saio de casa, até a última palavra que lhe digo, quase sempre o germe de uma sensação que me acompanhará por dias - uma sensação fatal de arrependimento, de pesar, de desgosto, de constrangimento, de penitência, de castigo, por acreditar que eu poderia ter dito muito mais do que apenas "tchau".







8 de fev. de 2019

6 de dez. de 2018



quem aqui
como eu
tem a idade de Cristo
quando morreu?




27 de out. de 2018

Eu me lembro daqueles tempos.

Minha mãe sozinha e me levando pelo braço a cada seis meses trocando de casa, de aluguel em aluguel, cada vez mais distante do centro, depois do outro lado do rio, depois fora da cidade, depois por um tempo num canto que nem energia elétrica tinha (disso ela me poupou; nessa época, morei com minha avó). O pouco dinheiro que tinha, pagava uma escola particular pra mim; mas o dinheiro só cobria a mensalidade. Não cobria os livros. E naquela época não tinha cuidado com infância não; a diretora me xingava quase diariamente na frente de todo mundo não pátio, porque eu não tinha a MERDA de um livro de Matemática. Decidi nunca mais ir pras aulas de matemática. Depois, decidi nunca mais ir pra escola. Eu tinha dez anos, e passei três meses perambulando pela cidade na hora da aula sem ninguem saber, nem a coitada da minha mãe. Depois ela descobriu e fez o certo, me tirou daquele lugar, mas não tinha opção: me meteu noutro pior, uma escola pública cheia de maus elementos. Demorou pras coisas se ajeitarem... eu me lembro de como o ano de 2003, mesmo com o neoliberalês do começo do governo Lula, foi arrebatador em nossas vidas. E os anos seguintes, então... o melhor ainda estava por vir.

Quando me perguntam por aí sobre meu pai (que não conheço), eu digo sempre: meu pai é Lula. Tem gente que acha que eu falo brincando...




12 de out. de 2018

12 de ago. de 2018

          Ela: - Não daríamos certo.

          Eu: - É mesmo, por quê?

          Ela: - Eu sou caos.




Ah, como essas meninas me dão sono...




24 de jun. de 2018

23 de jun. de 2018

HOJE ACONTECEU ALGO BEM INTERESSANTE, FOI A PRIMEIRA VEZ QUE...
 Bom, quem quer saber? Deixa pra lá



 

17 de jun. de 2018

16 de jun. de 2018

3 de jun. de 2018

Não defendo que ninguém "aceite" a vida "como ela é"...

se alguém quiser gritar que a odeia,

eu estarei ao lado estimulando que o faça mais alto

(jamais tentando calar o grito)



.



14 de fev. de 2018

12 de fev. de 2018

O choro e o carnaval


É carnaval no meu país,
com máscaras se cobre o rosto,
trazendo em si um pressuposto,
como quem diz "eu sou feliz".

Com máscaras se cobrem as dores,
as ruas se enchem de gente,
E os corpos, cheios de cores,
cansados, ficam dormentes.

Amanhã vai-se o carnaval
mas as dores ficam conosco
e as máscaras não servem mais.

E então tudo volta ao normal,
e o mundo, embaçado e fosco,
chora até outros carnavais...




1 de dez. de 2017

17 de set. de 2017

desde quarta-feira


Zé Teodoro era um velho paraibano que vivia cruzando o nordeste com sua Intruder, aquela moto que foi feita para pessoas como nós, sob medida - pequena e guerreira. Eu o conheci há muito tempo, num encontro de motociclistas ali na Praia do Meio.

Um dia, o Zé ficou doente. Uma gangrena tiraria a sua perna. Outros problemas lhe tiravam o controle do resto do corpo.

A perna não voltaria mais. Mas a expectativa era de que todo o resto passasse.

Após anos sem viajar e sentindo bater aquele velho desejo, o já fraco Zé pediu que seu filho adaptasse a moto. Quando ele se recuperasse, poderia pilotá-la, mesmo sem a perna gangrenada. A Intruder é perfeita para customizações. A ideia dele pareceu esquisita: transformá-la em um triciclo. Mas o resultado não foi nada mal:



Saudoso seja o Zé, que, no entanto, não pôde ver sua Intruder adaptada - e não pôde mandar ver aquela sua última viagem.

A estrada não esquece.



13 de ago. de 2017

Antigamente, no dia dos pais, em minhas redes eu via todo mundo homenageando seus respectivos velhos.

Agora, todo mundo tem filho. Mas, na impaciência de esperar que os pequeninos cresçam e os homenageiem, o que vejo são todos eles se autoparabenizando...




3 de jul. de 2017

Eu apaguei tudo


Me desculpa
se falei demais
Se falhei ao ser
pra você o que queria mais
Me desconte
um valor
que eu mereça pagar
minha conta
é pura dor
não dá mais pra aguentar
Me desculpa
Me desconta


Se você
dissesse que talvez
em outra ocasião
e eu lhe perguntasse o porquê
Em silêncio
tudo que tentei dar pra você
desmoronaria
sem chance de reverter

Não importa mais
já que tanto faz


Um dia, na beira da praia
eu construí um castelo de areia e água
e depois desmoronei tudo
desmoronei tudo

Um dia, no meio da rua
eu desenhei um planeta acompanhado de uma lua
e depois apaguei tudo
eu apaguei tudo


6 de mai. de 2017

Em certo momento, tô lá no calor dos debates polêmicos de Facebook, e de repente o meu adversário diz:


Mudando de assunto, vc foi meu professor de Geografia, Filosofia e Sociologia no Castro Alves. O melhor que eu tive diga-se de passagem. Depois que o senhor saiu eu não aprendi mais nada nessas matérias.



 Assim não tem como continuar a treta. 


14 de abr. de 2017

5 de abr. de 2017

Lembro-me de quando trabalhei numa peixaria, carregando nas costas pesados pacotes cheios, sempre ansioso por ver terminar aquele expediente maldito, que parecia eterno. Não bastasse o desconforto do peso que carregava, tinha ainda que aturar as ladainhas da rapaziada que trabalhava comigo. Homens másculos e falantes demais, todos sempre com um sorriso despojado enquanto o cigarro pende no canto da boca, sempre xingando a uns e a outros - eu sempre na lista de alvos primordiais - e eu sempre na minha, com ódio de todos eles, da minha família, de Deus e do mundo. Uma vez, um desses sujeitos, o Alverga, disse para mim:

- Você não vai com a nossa cara, seu merdinha. Mas foda-se. A vida é assim, e você vai ter que aguentar.


Não durei nem dois meses na peixaria. Mas o temor daquela vida de merda ainda me acompanhou durante muito tempo...



"Você não sabe o que é uma pessoa ansiosa, angustiada, com problemas emocionais", foi o que eu disse hoje para um amigo ansioso, angustiado, com problemas emocionais. Felizmente, ele entendeu o que quis dizer.



8 de fev. de 2017

11 de jan. de 2017

hoje vi uma pessoa dizendo que gostaria de saber onde andavam seus amigos de ensino médio, lá do JK, Assu, turma de 2005. que fim teriam levado eles?

eu me lembrei que eu imaginava o mesmo sobre meus colegas de ensino fundamental, concluído lá no longínquo final dos anos 90. 

todos dispersos pelo mundo, ninguém mais se lembra de ninguém, eu pensava.

até que uma menina daquela época me localizou.

e me colocou num grupo de whatsapp.

estava todo mundo lá.




26 de dez. de 2016

muita gente se ocupando de fazer planos pra 2017, mas agora é que eu tô decidindo o que quero pra 2016...



13 de dez. de 2016

diz um tio meu que...

"Não gosto muito dos contos eróticos brasileiros, é tudo mal escrito, sem pontuação, sem nada... Nem os contos eróticos em português de Portugal são bons. Eles revisam, e tudo, mas sempre passam algumas coisinhas. Esses aí (escritos em inglês) são tudo bem-feito..."





1 de out. de 2016

ANTEONTEM, A JULIANA ME PEDIU SINCERAS DESCULPAS

HOJE, SOU EU QUEM DEVO DESCULPAS AO CLÁUDIO

NO FINAL DAS CONTAS, NINGUÉM ESTÁ QUITE COM NINGUÉM




27 de set. de 2016

A esmo
Para Vivian


Nada do que eu diga agora faz sentido,
e tanto faz já o tudo que disseram.
As frustrantes sensações que se impuseram
são por nada mais poder ser revertido.

Dito isso, só queria dizer agora
que sei que não existe nunca boa hora
para se dizer adeus ou pra silenciar
no momento em que é preciso ir embora.

Mas por saber da forma como aconteceu
e por imaginar o sofrimento do instante,
não posso deixar de me impactar
com o gesto daquele inútil meliante.

Fui pego de surpresa após 30 dias,
depois de insistentes notificações
que construíam mil e uma teorias
profetizando suas novas aparições.

Fiquei pensando nesses anos de silêncio
e nos tantos silêncios que acumulamos,
nos amigos que se foram nesse tempo
e nos que de vez em quando ajudamos.

A Maria vai bem, animada, e a Leci
- dessa não dá pra dizer o mesmo.
A sua filha Tâmisa, enfim, eu conheci
pela nota jogada na internet a esmo,
o Zé Reinaldo há tempos não vem a Natal,
sobre Márcia ninguém mais falou,
tá tudo em branco, tudo assim, sem sal,
como aquelas fotos que você mandou.

Ficam aquelas boas lembranças de amigo,
apesar de toda a sensação ruim.
Nada do que eu diga agora faz sentido,
não existe boa hora para o fim.




25 de set. de 2016

Todo mundo está por aí precisando dizer algo.

Todos estão precisando conversar um pouco.
As pessoas chegam pra mim
e perguntam alguma coisa sobre Cuba.
"Você é especialista no assunto", elas falam.
Respondo as dúvidas que trazem, e elas dizem "que interessante",
e depois contam que se interessaram por Cuba durante a faculdade.
Em seguida, pergunto o que mais marcou a época da faculdade,
e essas pessoas dizem que foi um tempo muito bom,
mas também foi uma fase complicada.
Logo após, contam que na época da faculdade, era difícil a situação financeira,
a relação com a família, com amigos, com todo mundo.
Não demora e confidenciam que esse problema não era só na época da faculdade.
Já existia antes.
E continua a existir agora.
Vou dando palpites acerca dos problemas delas
e quase sempre acerto,
não porque sou esperto,
mas porque já passei por coisas parecidas.
As conversas duram horas.
E então se despedem,
oferecendo agradecimentos pelos desabafos feitos.
Raramente voltam a conversar;
alguma espécie de constrangimento parece que fica no ar.

E fico então no aguardo
da próxima pessoa que tenha perguntas sobre Cuba,
ou sobre qualquer coisa.
 

Porque eu também preciso conversar.




23 de set. de 2016

antigament eu ouvia o disco galope do tempo ou revolta dos dandis e pensava, porra, esse disco fala sobre mim, e tinha o desejo d eventualmente ouvir com algm, musica por musica, convrsndo sobre cada verso, mas o tempo passou, isso ñ aconteceu e agora meio q vejo q esses discos n falam de mim, na verdade falam de todo mundo, todo mundo se sente só, se sente triste, td mundo se acha antissocial, td mnd se acha depressivo, mas curtem so o lado glamuroso da coisa... acho que foi qdo me dei conta d q td mndo vivia triste q eu me permiti ser + feliz, e hj ouço esses discos com o apreço dos q tem boa memória, apesar dos tempos nefastos q representaram... como diz a canção - q n ta em nenhum desses discos - a noite fria me ensinou a amar + o meu dia...



11 de set. de 2016

quando nos mudamos pra esse bairro
fins de 1997
havia bem ali um terreno baldio
um descampado enorme, com barro e lixo
pensei: seria legal se fizessem algo aqui pra pessoa poder passar o tempo
anos depois, o governo limpou tudo
construiu umas duas quadras
achei que tinha ficado bem legal mas ainda precisava de mais
outros anos passaram
e o governo reformou as quadras e pavimentou parte do terreno
colocou um gramado e tudo
e ficou bem legal
mas ainda faltava uns bancos pra pessoa se sentar
então após mais uns anos
o governo instalou bancos e plantou umas arvores
e eu pensei:
vai ficar massa quando essas árvores fizerem sombra
hoje, 20 anos depois
o gramado cresceu
as arvores ja fazem alguma sombra
alguns bancos foram depredados, mas a maioria permanece lá
e só agora eu fiz o que esperava desde muito tempo:
sentei
e pronto. assim permaneci por horas.




27 de ago. de 2016


LEON, TENTE ENTENDER O SER HUMANO POR COMPLETO,
falou-me a pessoa que nunca leu livros carregados de dramas psicológicos, nunca assistiu nem ao Clube da Luta e vive com medo de "pegar" essa doença chamada depressão...






26 de ago. de 2016

19 de ago. de 2016

o eu
é aquele fetiche que alimentamos
de que existe um núcleo, uma substância
ali onde,
na realidade,
não existe nada.




7 de ago. de 2016

se,
das possibilidades que minha mãe me ofereceu,
eu estiver certo na suposição,
então hoje
é aniversário do meu pai.

parabéns, caba bom.




6 de ago. de 2016

4 de ago. de 2016

do tempo que eu era mais amargo

Querida F..., confesso que não me lembro das vezes que passei no vestibular, e às vezes sinto certa amargura por não ver nesses momentos que tive nada que se possa chamar de conquista, mas percebo o semblante de vitória e de orgulho em algumas pessoas que vejo passar, bem como o de fracasso latente entre aqueles que não passaram, e às vezes tento deixar minhas concepções pré-formuladas de lado para poder entender mais friamente toda essa quantidade de emoções à mostra, mas eu não consigo. Mas pelo menos parabéns eu ainda sei oferecer, eu também queria um dia ter “passado no vestibular”, e ler seu texto me dá uma sensação boa de que seria possível, e é isso (o vídeo não vou ver)… um beijo.

2 de ago. de 2016






comecei a trabalhar em mais um roteiro, solicitado por um amigo virtual, um estudante de cinema (diretor amador), em troca de algumas dilmas. tava tudo pronto, até comecei a escrever uma boa história de início, era para um curtametragem, e lá eu explorava o comportamento masculino depois de uma noite de amores quentes com mulheres conhecidas ou desconhecidas. escrevi o primeiro caso, um homem que se divorciava e, após oito meses sem contato com o mundo feminino - cuidando para adquirir novos hábitos, deixando de fumar, de beber, etc -, ele então encontra a ex-mulher num ônibus ou metrô e, nessa primeira noite, ele volta para sua antiga casa. todo o serviço sexual é completo, os dois transam como felinos irritados durante toda a madrugada, até que, num dado momento, naturalmente, ele cansa. e se vê deitado na cama com sua ex-mulher, figura feminina que ele passou a odiar com o passar dos anos. ele percebe então que o que sustentara seu casamento durante oito anos foi justo a bebida, o cigarro, um baseado depois da foda; agora, porém, ele não tinha nada disso. foi o pior momento de sua vida.

pra ela foi tudo trágico também, eu sei.

Parei por aí.



1 de ago. de 2016

um e-mail que escrevi há muito tempo e nunca enviei

.
.
.
eu estava vendo e aprendendo algo sobre o escorpião, sobre a tendência regenerativa desse ser que se manifesta num impulso destrutivo, para reconstruir a vida permanentemente, e fiquei pensando nisso que você falou, que a vida é sempre um andar para a frente,mesmo que trôpego e cambaleante, e já não dá retorno possível para o passado. fica tudo se acumulando no altar do esquecimento. eu que só queria acordar sem esse nó no estômago. queria qualquer coisa doce, já que ando cada dia mais azedo. qualquer coisa que fosse como um deslumbramento ou um abraço. mas nada disso virá, a gente sabe. tudo se vai.




 
que merda.

até amanhã... depois, logo se vê.
.
.
.
 

31 de jul. de 2016

a realidade é um prato de comida com sal alem da conta... voce pode ate beber um copo inteiro pra amenizar uma garfada, mas sempre precisara de mais bebida na garfada seguinte

30 de jul. de 2016



Todos querem sangue
querem lama
querem à força
o beijo na lona

e querem ao vivo...


27 de jul. de 2016

O sonho é popular (eu li isso em algum lugar; se não me engano é Ferreira Gullar falando da arquitetura de um Oscar)...




22 de jul. de 2016

Eu recebi hoje um email de um conhecido dos tempos de colégio, estava anexado com umas fotos recentes de Rodrigo, um dos caras mais arruaceiros que já conheci, quando nos falamos a primeira vez devíamos ter uns 13 anos, e mantivemos contato pelos três ou quatro seguintes. Depois que nos distanciamos, só tive notícias suas em dois momentos: um foi quando ele passou uma semana preso por estar empossado de umas muambas, que, como se não bastasse, eram roubadas; o outro momento foi agora, através dessas fotos. No corpo da mensagem, o remetente tentava convencer a mim e aos outros três ou quatro destinatários a abrir as imagens.

EI AMIGOS VEJAM O QUE ACONTECEU COM O VENTA
HAHAHAHAHA QUEM SABE ELE APRENDE
SAUDADES

Eu não tinha entendido, só entendi quando vi as fotos. Rodrigo estava acabado, havia sofrido um acidente de carro e era só cacos, com lesões que iam desde pequenos arranhões na bochecha até uma fratura horrível nos metatarsos que o impediria até de colocar o pé no chão por um tempo, mas estava vivo, e chegava até a sorrir em uma das sete fotografias, fazendo um sinal com as mãos...



21 de jul. de 2016

- o q vc acha q devo fazer?
- primeiro esquece
tudo isso, sossega, fica bem,
aproveita o clima, as ruazinhas da praia,
entra no mar, relaxada,
lembra de quando fazia isso com 12 anos de idade,
como era bom,
como nao tinha preocupação nenhuma na vida,
tenta lembrar de
como era boa a vida
antes de tu começar
a entrar nos
descaminhos dela...



17 de jul. de 2016

Eu sempre fiquei jogando as coisas pra frente.

Quando eu terminar a faculdade farei isso,
quando eu tiver salário farei aquilo...

Mas um dia, eu pensei,
Porra,
eu tô com 27, 28 anos,
dizendo a mesma coisa que dizia a mim mesmo há uma década.

E eu estava ali, com salário, com diploma, mas almoçando com talheres de plástico
num restaurante de supermercado.

Foi quando eu pude entender
que a vida é isso que vai passando
enquanto a gente pensa que é outra coisa.




14 de jul. de 2016

trecho de um prefácio que escrevi para o livro de um amigo


 

Um poema nunca nasce do vazio.

Eles são sempre expressão de vida,
de sangue corrente nas veias.

Eles trazem consigo dores, risos;
eles podem denunciar, podem tripudiar.

Só não são indiferentes.

Um poema costuma guardar laços de intimidade
em relação às coisas do mundo.

O poeta é um sensível, não à toa eles costumam ser lidos e interpretados
nem sempre pela maneira como gostariam de ser interpretados,
mas sim como o leitor deseja interpretar
— ou interpreta, mesmo que não deseje.

O leitor, afinal, é tão sensível quanto o poeta.

E, nesse diálogo, ambos se firmam no mundo.

O poeta lança suas verdades
(ou as mentiras da verdade),
e no leitor é que o confronto entre o poema e a realidade acontece.


O poeta, nesse momento, já ficou para trás.





9 de jun. de 2016

Estava relendo algumas páginas do escritor que mais do que ninguém me influenciou, Rubem Fonseca... e me deparei com o seguinte trecho num diálogo...

- Há certas pessoas que precisam de um empreguinho garantido no governo e você é uma delas.

Se essa sentença fosse dirigida a mim, a única coisa que eu responderia era: "sou mesmo".



7 de jun. de 2016

de uma ex-aluna, tentando dizer o que acha bonito em mim
 
sua barbaa, seu modo de ensinar, seu carisma, sua felicidade q todas as vzs de manhã eu gostava de ver ela estampada com um sorriso no seu rosto, espero te ver novamente professor.



18 de mai. de 2016

Mais sobre a HP

lembro que, num dos congressos que participei, em Vitória, Espírito Santo, eu estava transitando pelo campus onde rolava o evento e parei numa banquinha de livros do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro, organização que editava o Hora do Povo). não tinha ninguém num primeiro momento; deviam ter saído por uns instantes. folheei os livros e logo apareceram dois gigantões. tudo bem que sou pequeno, mas eles mesmos eram muito mais altos que a média dos sujeitos altos que conheço. acho que comprei algum livreto de Stálin e, brincando, perguntei

- com o que o MR-8 alimenta vocês para serem tão grandes assim?

- com a verdade, disse um deles.

- boa resposta, falei. mas o que pensei de fato foi: com Pinóquio, crescia só o nariz...



12 de mai. de 2016

O crepúsculo de um longo dia

Ascende um neoliberal à presidência e as sensações são diversas. Para mim, particularmente, parece o crepúsculo de um longo dia. Desde meus 16 anos, quando Lula foi eleito, até hoje, fiz a opção de defender esse que, como diziam os chilenos de Allende, pode ser um governo de merda, "mas é o NOSSO governo de merda". Foram muitas horas de sono perdida, muitos dias sem comer, muito lazer do qual abri mão, tudo isso a custo zero - aliás, a custo negativo, já que grande parte dos gastos éramos nós mesmos que precisávamos arcar. Deixei a militância, mas permaneci na defesa do projeto ali construído, considerando-me pessoalmente responsável por ele, espírito em muito decorrente da disciplina absorvida nos tempos de Partido Comunista. Agora, apesar de alguma sensação de derrota, sinto-me, na verdade, mais leve. Não foi fácil ser de uma geração que cresceu com a responsabilidade de defender um projeto que não foi por ela construído. Não sei o que vem pela frente, mas, ciente de que é preciso lutar sempre, o que sinto é um grande peso saindo de minhas costas.


 

10 de mai. de 2016

Lembranças da HP

Estava dia desses vasculhando baús vendo a coleção de jornais Hora do Povo, que eu comprava na adolescência - era o mais acessível: 50 centavos nas bancas da Av. Rio Branco. Uma das coisas que me agradava no jornal era sua abordagem radical, de esquerda, e com manchetes elaboradas, ousadas e algumas com belo tom de humor, o que era raro naqueles tempos pré-redes sociais.

Agora joguei todos fora, mas não posso deixar de rememorar algumas daquelas manchetes.


Porrada nos cornos quebra os dentes do Império, um dia após o 11 de setembro.

Centenas de vândalos ianques já no inferno. O resto a caminho, sobre o terror que os invasores americanos estavam passando nas primeiras semanas no Iraque, com derrotas sucessivas.

Comandante das tropas ianque é mandado pela mulher, mais uma postagem criticando os invasores americanos, com a veia machista que era própria da época.

Iraque não é puteiro, diz o delegado de costumes de Bagdá, também sobre as derrotas sofridas pelo exército americano no país. O subtítulo dizia: é por isso que a Ana Paula Padrão não põe os pés lá.

Otavinho pego no elevador de serviço com o Cabo Hide, sobre o apoio empolgado da Folha de SP (cujo dono é o Otávio Frias Filho, pai do editor Otavinho) à invasão americana.

Otavinho reivindica a Lula embaixada na Disneylândia, sobre as futilidades do editor da Folha.

Nem todas as manchetes eram em tom de piada. Algumas eram sérias, clássicas, com estilo. A minha favorita foi a que usaram quando o presidente do PSDB foi enquadrado num escândalo e abandonado pelo partido que presidia: PSDB suicida seu presidente e leva flores ao funeral.


2 de mai. de 2016

o corte

acordo tarde, os meus olhos ardem
no encontro com o sol (eu estou só)
não há outro lugar pra me abrigar

tão forte o corte que sinto no corpo
tão corpórea dor de púrpura cor
outro lugar não sei (eu quero me esconder)

no universo que conspira ao meu redor
nesse verso que suspiro com temor
o inverso do que eu pretendia ser
alvorece e só me resta obedecer

acordo tarde, os meus olhos ardem
no encontro com o sol (ainda estou só)
não há outro lugar pra me abrigar

se já é tarde, se o dia se perde
se você se foi, se acabou
o corte já fechou
mas a dor não passou