Após um longo e tenebroso inverno. Após anos de pesadelo ininterrupto. Após tantos descaminhos tortuosos que por pouco não me fizeram perecer. Após os tempos de trevas terem se abatido sobre minha vida, nos quais o infortúnio, a angústia e a incerteza imperavam, volto e nfim a perceber as cores dos jardins floridos e a luz branca que vem do sol da manhã. É incrível, quando estamos obcecados por certa coisa, do modo que eu estive, a cegueira se apropria de nossos olhos. O silêncio detém todo domínio sobre nossos ouvidos e a amargura corrói nosso coração. Então nós não conseguimos mais ver, ouvir, sentir nada com clareza e temos convicção de que chegamos ao fim da linha. Mas penso que tudo pode ter um motivo. De repente, tudo que passei pode ter sido absolutamente necessário pra me conduzir a uma forma nova de viver e amar. Agora, enfim conheci o amor puro. Conheci aquela felicidade real, não apenas a euforia. Conheci o amor fraternal e verdadeiro. Agora amo a alma de alguém, como seu corpo e rosto. Mas, sobretudo, amo as divagações e ideias. Estou experimentando uma estranha e gostosa sensação de amar e confiar. E junto com ela a sensação de poder me entregar sem medo, tamanho o bem que ela me faz. Então me quedo sereno, pensando, nesse vento gostoso das tardes de outono. E o sorriso não sai de meus lábios. Um pensamento bem leve e reconfortante também não abandona minha mente. Então, logo a vejo vindo novamente em minha direção. Abro um largo sorriso e os braços para recebê-la, com todo o carinho que nunca dei; que ela merece. Seu nome é Nayara . E eu a amo como nunca amei.