11 de out. de 2010

Para a margem oposta do rio

Na margem oposta do rio
não há sonhos ou esperanças,
não há bichos e nem crianças;
naquele lugar toda quimera
são mostras de que coisas boas
não satisfaziam pois não existiam
senão noutro tempo, noutra era.


Na margem oposta do rio
não vemos garotas, não temos desejos,
não temos abraços, não temos beijos;
temos o bocejo que marca o cansaço
de quem, numa simplória expectativa
imprime ali o seu derradeiro passo,
a sua última e fracassada tentativa.


Porque a margem oposta do rio,
para quem observa do lado de cá,
oferece loas de primaveras e luzes,
mas esconde a negritude e as cruzes
que nos apresentam a sua outra face
deixando-nos num verdadeiro impasse
(é por isso que não há mais ninguém lá).


Na margem oposta do rio, disseram poetas
as estátuas esculpidas substituíram os atletas,
a paisagem verdejante, com vida e com cor
se transformou numa natureza morta pela dor.
E é por amor à dor e ao sofrimento de agora
que é pra lá que vou quando daqui for-me embora.

2 comentários:

marcelo grejio cajui disse...

Não sabia que escrevia poesia, amigo.
bem interessante, com um "Q" melancólico no final.
abraço e obrigado pela visita.

Maluz disse...

"a paisagem verdejante, com vida e com cor
se transformou numa natureza morta pela dor."
A mais pura verdade.