13 de set. de 2010

Tentando traduzir Eulogy To a Hell Of a Dame, de Charles Bukowski


Elegia para um inferno de uma dama

alguns cachorros, quando dormem à noite
devem sonhar com ossos
e eu me lembro de seus ossos
na carne

e ainda melhor
naquele vestido verde escuro
e aqueles pretos e brilhantes
sapatos,
que você sempre sujava quando bebia,
seu cabelo descendo sobre você,
querendo explodir pra fora
o que a estava atormentando:
memórias podres de um
podre
passado, e
você finalmente saiu
fora
morrendo,
deixando-me com o
podre
presente;

você morreu
28 anos
ainda me lembro de você
melhor do que qualquer uma
das outras;
voce foi a única
que entendeu
a futilidade das
regras da
vida;
todas as outras estavam apenas
despreparadas com
atos triviais,
interrompidas
insensatamente sobre
a insensatez;
Jane, você
morreu por
saber demais.

faço aqui um brinde
para seus ossos
com os quais
este cachorro
ainda
sonha.


2 comentários:

Alessandra Santos disse...

Quando li esse poema lembrei imediatamente de um do Quintana, mas só agora pude tecer um comentário. É um dos meus preferidos dele. Tão bonito e de uma sensibilidade única. Trata da ausência, assim como este do Bukowski, mas de uma forma muito diferente. Não por acaso, sou uma admiradora de sua obra. O poema é o seguinte:

Presença

"É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida..."


Um beijo, Leon.

Maluz disse...

"faço aqui um brinde
para seus ossos
com os quais
este cachorro
ainda
sonha."
Romantismo bizarro e lindo.