26 de fev. de 2019




"Tchau", ela me diz, apenas, ignorando que se dependesse de mim ficaríamos por mais tempo, passearíamos por mais tempo, conversaríamos por mais tempo, faríamos companhia um ao outro por mais tempo - ou talvez não ignore, talvez saiba que se dependesse de mim seria mesmo desse jeito, mas por isso ela não aceita (porque não quer que dependa de mim), então ela se vai e eu fico entre o lamento por terem acabado aqueles momentos em que estivemos juntos e o deleite por tê-los vivido, consolando-me em silêncio, enquanto a vejo se afastar pelo para-brisa embaçado ou pelo retrovisor sujo, quase segurando a respiração, contando cada um dos seus passos apressados e sem olhar para trás, até o momento em que ela se mistura às sombras e eu já não sei bem se ainda a tenho em vista ou se ela já escapuliu do cenário, e eu então coloco o cinto, que sempre tiro (pra quê?), ligo o carro, que sempre desligo (por quê?) e aumento o volume do som para afastar meus pensamentos e me distrair, porque voltar para casa sozinho é sempre algo tormentoso na minha cabeça, pois em todas as vezes eu fico rememorando cada segundo e imaginando como poderia ter sido diferente (mas que bom que não foi, quem sabe), desde o começo, quando nos encontramos, ou desde antes, quando saio de casa, até a última palavra que lhe digo, quase sempre o germe de uma sensação que me acompanhará por dias - uma sensação fatal de arrependimento, de pesar, de desgosto, de constrangimento, de penitência, de castigo, por acreditar que eu poderia ter dito muito mais do que apenas "tchau".







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