5 de abr. de 2017

Lembro-me de quando trabalhei numa peixaria, carregando nas costas pesados pacotes cheios, sempre ansioso por ver terminar aquele expediente maldito, que parecia eterno. Não bastasse o desconforto do peso que carregava, tinha ainda que aturar as ladainhas da rapaziada que trabalhava comigo. Homens másculos e falantes demais, todos sempre com um sorriso despojado enquanto o cigarro pende no canto da boca, sempre xingando a uns e a outros - eu sempre na lista de alvos primordiais - e eu sempre na minha, com ódio de todos eles, da minha família, de Deus e do mundo. Uma vez, um desses sujeitos, o Alverga, disse para mim:

- Você não vai com a nossa cara, seu merdinha. Mas foda-se. A vida é assim, e você vai ter que aguentar.


Não durei nem dois meses na peixaria. Mas o temor daquela vida de merda ainda me acompanhou durante muito tempo...



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