Lembro-me de quando trabalhei numa peixaria, carregando nas costas
pesados pacotes cheios, sempre ansioso por ver terminar aquele
expediente maldito, que parecia eterno. Não bastasse o desconforto do
peso que carregava, tinha ainda que aturar as ladainhas da rapaziada que
trabalhava comigo. Homens másculos e falantes demais, todos sempre com
um sorriso despojado enquanto o cigarro pende no canto da boca, sempre
xingando a uns e a outros - eu sempre na lista de alvos primordiais - e
eu sempre na minha, com ódio de todos eles, da minha família, de Deus e
do mundo. Uma vez, um desses sujeitos, o Alverga, disse para mim:
- Você não vai com a nossa cara, seu merdinha. Mas foda-se. A vida é assim, e você vai ter que aguentar.
Não durei nem dois meses na peixaria. Mas o temor daquela vida de
merda ainda me acompanhou durante muito tempo...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário