2 de jun. de 2014

Naquele quarto onde até a respiração era difícil, eu não precisava de tormentos emocionais para completar o pacote. Sentia-me muito desolado. Bebi um pouco, mas mesmo aqueles tragos já não me aliviavam como noutros tempos. Não queria beber. Não queria comer ninguém. Não queria longas madrugadas nas ruas. Não queria dormir em muquifos, acordar em sarjetas, vomitar na beira do mar, com o sol nascendo e sem que eu o perceba. No sufoco daquelas paredes e daquele quarto sem luz, eu pensava que nada daquilo me representava, eu não era aquilo, eu não devia estar ali. Todas essas coisas eram o mesmo filme antigo que se repetia diariamente. Eu podia pensar em algumas maneiras de me matar, mas meu conflito na ocasião não era com a existência; era, isso sim, com o que eu havia feito dela.

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