Minha mãe sempre diz que o futebol são apenas 22 caras correndo atrás de uma bola. Não sei se invejo ou se lamento um pensamento tão desprendido como esse, que não consegue enxergar alguns centímetros além. Eu, que conheci o futebol na fase de moleque mais por almanaques que por presenças no estádio... que conhecia mais as histórias adjacentes à bola (história de superação e fracasso de jogadores, momentos de simbiose entre torcida, nação e time em campo, etc), nunca consegui reduzir o jogo àquilo que o árbitro coloca na súmula. Gosto de pensar no que há ao redor daquilo. Eu me lembro: tinha 12 anos quando assisti ao jogo França x Paraguai, pela Copa de 98. A primeira era o time-sede, time de estrelas internacionais. O segundo era um time de fudidos, que falavam melhor o tupi-guarani do que o espanhol (não é brincadeira). Aquele jogo deveria ser o mais fácil da França; foi o mais difícil. Foram 90 minutos de heroismo dos paraguaios em segurar o resultado. O jogo acabou e começou mais 30 minutos de prorrogação. Arce estava exausto, mas continuava marcando o bravo lateral francês. Gamarra, coitado, quebrou o braço no jogo - mas fez questão de voltar ao campo de jogo. Eu, moleque, nunca presenciara tanto heroísmo. Foi somente depois de duas horas e meia de jogo que a França conseguiu marcar um gol, encerrando o jogo. O choro dos paraguaios não foi um choro midiático como o do garoto Neymar. Foram prantos, de quem sabia que carregava um orgulho nacional nas costas, a porra dum orgulho nacional que muitos minimizam como se tudo aquilo tivesse a importância que tem uma formiga pisada na calçada. Nunca vi o futebol da mesma forma depois daquele dia. Eu vi, ali, que valentia não era coisa do passado. Vi que diante das coisas artificiais, ainda há histórias, vivências, há sonhos. Não nego que o futebol hoje está financeirizado. Sei bem disso. Só não movimenta mais dinheiro no mundo do que as drogas e as armas. Mas a Copa do Mundo é daqueles raros momentos em que podemos ver esse algo mais. Povos que vêm acompanhar seus times. Jogadores que sabem que jogarão apenas duas ou três Copas na vida. É fácil jogar por jogar o Campeonato Brasileiro, quando um atleta sabe que no próximo ano terá outro, e depois mais outro, e assim por diante. Mas Copa do Mundo não; esse é um dos últimos trunfos do futebol jogado com amor à camisa. Nesse espetáculo, os times fabricados pode até existir, mas eles perdem primeiro. Vide a Espanha.
Muitos reclamam do patriotismo do brasileiro, que só se manifesta em tempo de Copa do Mundo. Eu prefiro que continue assim. O outro patriotismo que existe no nosso mundo é o que só se manifesta em tempo de guerra.
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