31 de jan. de 2014

Por anos, usei drogas. Não entro no mérito se fui viciado ou não - afinal eu diria que não, mas um viciado nunca admite que é viciado. O ponto a favor para eu não ter maiores traumas era o fato de que eu não usava frequentemente. Muitas vezes, corriam semanas entre um uso e outro, insuficiente para gerar a costumeira sensação de abstinência pela qual vi muitos amigos passarem (muitos ainda devem estar passando). Pouco fumei, mas bebi, cheirei e ingeri bastante. Não sinto vontade de voltar. Não sinto medo. Não sinto nada. Nunca faltei aula ou trabalho por estar drogado. O único efeito colateral que eu sentia - com algumas drogas - era uma maldita sensação de perseguição. Eu sempre tive essa horrível sensação, muito pelo fato de sempre andar sozinho pela cidade, dia e noite, uma vez que nunca fui de ter turma, pegar carona, etc. Depois de shows ou coisas assim, por muitas vezes me via por horas caminhando pela cidade esperando algum ônibus passar, e nunca passavam. Essa sensação piorava quando eu ingeria certas coisas. A última vez que me dopei faz três anos. Tomei, talvez pra matar a saudade, vinte pílulas de um certo remédio e fiquei em casa. Foi horrível. Foi amedrontador. Lembro-me primeiro da impressão de ver insetos pelos cantos. Depois, comecei a sentir o corpo em permanente movimento; sentado ou deitado, a impressão era de estar num balanço com alguém empurrando. Lembro-me de ver a parede da sala transformada numa enorme mata fechada, com arbustos se mexendo, como se serpentes se mexessem por trás deles. Lembro-me de ouvir a mangueira jorrando água lá fora, mas ao chegar lá nada estar acontecendo; lembro do pânico que sentia ao virar pra trás a cada gesto, lembro do horror que era passar pelo outro quarto, vazio e, à época, sem porta. Não senti um pingo de sono por toda a madrugada temerosa. Quando era 5 da manhã olhei pela janela e vi minha cadela do lado de fora - provavelmente minha mãe a havia deixado sem me avisar. Quando abri a porta para trazê-la para dentro, não havia cadela alguma. Essa foi a última alucinação. Mas ainda continuei 36 horas sem dormir. Depois disso, não senti mais saudades.

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