9 de set. de 2013

O Pragmatismo Político publicou um artigo chamando Lobão de derrotista. Aprecio muito o site, mas tenho bastantes ressalvas a esse texto. Há quinze anos, 70% do discurso do Lobão já era o de hoje. Questionava a máfia do dendê, a atrofia cultural do mainstream, a sacralização da bossa nova, o apego excessivo a regionalismos, e relativizava as agruras da ditadura, ainda que dentro de um certo limite (isto é, para afirmar que a ditadura ideológica atual é muito mais efetiva que a militar, e nisso acho que tem boa parcela de verdade). O problema é que no contexto de agora, com um partido de esquerda no poder e essa onda conservadora de tipo olavete, as críticas que ele fazia, algumas antes procedentes, dão margem para uma falsa noção de que o "petismo" impõe "verdades" que estão "atrasando culturalmente" o país ou qualquer coisa nessa linha, como se ele tivesse tirado da cartola um monte de críticas ao governo da uma hora para outra. E pior, identificando, na raiz de todas elas, a autoria do PT, o que, independente de simpatias partidárias, são notoriamente falsas (pois em 1998, com todo esse discurso, ele ainda votava no Lula, declaradamente), e, provavelmente aliado a leituras de muita gente retrógrada - do tipo Olavo de Carvalho pra baixo - e demonstrando uma ausência de memória ou de visão crítica mais profunda, ele passou a assimilar o discurso antipetista que ignora todo o resto da política governista atual (avançada em muitos campos) em arremedo de uma esquizofrênica conspiração comunista de dimensões mirabolantes.
Daí o artigo do Pragmatismo Político recai, inclusive, numa crítica que Lobão sempre fez (e que sempre concordei), que é o fato de que a coisa mais difícil é entabular um debate de ideias, fundamentado (o que é verdade e independe de posição política), sem que um lado parta para uma agressão gratuita do tipo "ele é um drogado derrotista que quer chamar atenção", isto é, termina dando razão ao discurso conservador do Lobão. Se ele ia se aninhando no colo da direita por desprezo a certas práticas e elementos que (também, mas não somente) eram da esquerda, e esta, para detratá-lo, lança mão de tais artifícios, ele só tende, naturalmente a se sentir mais identificado ainda com a direita.
O que quero dizer com tudo isso e sempre que o "defendo", em síntese, é que os discursos de fuga dos críticos Lobão somente servem, infelizmente, para provar que ele está certo no diagnóstico, ainda que equivocado na premissa.

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