Há um espírito candente no mundo do rock, um espírito de manifestação que às vezes toma ares de idolatria, fanatismo e culto. Isso porque há um turbilhão de emoções, um performismo, um descarrego emocional adolescente de tal intensidade que a manifestação pessoal, existencial, emocional ou política ganha uma dimensão multiplicadamente maior do que a música traz. Quando a pessoa tem o espírito rock'n'roll, isto é, quando a adolescência passa, mas o rock continua tendo uma cara libertadora, continua sendo cano de escape e palavra, aí se percebem outras coisas novas. O culto continua, agora com mais maturidade, mas a juvenilidade não se perde. Num dia como hoje, quando os Engenheiros chegam a seu vigésimo sétimo aniversário, eu me lembro de quando, no meu primeiro show, muitos anos atrás, milhares dividiam a emoção de cantar junto "muito prazer, meu nome é otário", ou "estamos vivos sem motivos, que motivos temos pra estar?", ou "se eu soubesse antes o que sei agora, iria embora antes do final", aquele show incrível, no qual fiquei logo na boca do palco e foi tão frenético que nem a trágica morte daquela garota linda ao final do concerto conseguiu desvirtuar a memória daquele espetáculo, até hoje cristalizada, e revivida pela última vez meses atrás, quando pude ver, juntos, pela primeira vez, não somente um, mas dois heróis - Gessinger e Maltz, quanto ao Licks, terceiro herói, ainda aguardo a sacra oportunidade - num duelo de cordas e percussão que se bem me lembro, arrancou lágrimas de meus olhos desarmados, cantando verdadeiros hinos da minha geração, que no entanto a minha geração nunca cantou, talvez nunca sequer ouviu, mas eu ouvi, senti, e até agora o eco de Segunda-Feira Blues me toca, e me faz pensar que aquele foi um desses raros momentos que valeria a pena ser estancado, parado, e ser revivido eternamente... quem dera.
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