16 de out. de 2011

Hoje tive uma péssima lembrança, lembrança de um dia, na praia, lembrança de quando fiquei exausto, as ondas pequenas saltavam por cima de mim, engoli água, eu estava afundando, rezei, gemi e lutei contra a água, e sabia que não devia lutar, pois o mar estava quieto ali e na direção da terra eu ouvia o rugido das ondas estourando, então gritei, esperei, gritei de novo, mas nenhuma resposta além do agito dos meus braços e do som das pequenas ondas picotadas, então algo aconteceu à minha perna direita, aos dedos do pé, que pareciam cravados, quando dei um chute, a dor disparou para a coxa, que horrível, eu queria viver, Deus, não me leve agora, pensava, nadei cegamente para a praia, senti-me então de novo na linha da arrebentação e ouvi os vagalhões rugindo ainda mais alto, já parecia tarde demais, eu não conseguia nadar, meus braços estavam tão cansados, minha perna direita doía tanto, respirar era tudo o que importava, só que debaixo d'água a corrente puxava, rolando e me arrastando, e este foi o meu fim, pensei, mas enquanto morria eu ainda estava anotando tudo, vendo aquilo transcrito ao longo de uma página inteira manuscrita, escrevendo e buscando a areia áspera, seguro de que nunca sairia vivo dali, mas de repente, estava com água pela cintura, flácido e já muito entregue para fazer qualquer coisa a respeito, afundando impotente com minha mente clara, compondo toda a coisa, preocupando-me com os adjetivos em excesso, vindo o vagalhão seguinte e me derrubando de novo para baixo d'água, arrastando-me para uma profundidade de trinta centímetros e eu rastejei sobre mãos e joelhos para fora dos trinta centímetros d'água, mas prefiro não continuar lembrando mais...

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